A síndrome de Sanfilippo trata-se de uma desordem
metabólica, de caráter genético, autossômica recessiva, caracterizada pela
ausência dos mucopolissacarídeos III, que são responsáveis pela quebra das
longas cadeias de glicosaminoglicanos (GAGs).
Faz parte de um
grupo de doenças chamadas da mucopolissacaridoses (MPS). Especificamente, é
chamada de MPS III (III-A, III-B, III-C e III-D). Recebe o nome de síndrome
de Sanfilippo em homenagem ao médico que relatou pela primeira vez alguns
casos da doença no ano de 1963, o Dr. Sylvester Sanfilippo.
Esta moléstia
ocorre quando há a ausência ou defeito das enzimas necessárias na quebra e
reciclagem de um dos GAGs encontrados no organismo, o heparan sulfato. Quando
não ocorre a quebra total deste GAG, há um acúmulo do mesmo no interior das
células do corpo, ocasionando dano progressivo. Tipicamente, as manifestações
clínicas surgem entre os 2 aos 6 anos de idade.
Existem quatro
tipos distintos desta síndrome:
Deste modo, cada
indivíduo com MPS III apresenta um tipo específico da mesma: A, B, C ou D,
sendo que a determinação do tipo deve ser feita por meio de testes
bioquímicos.
Pesquisas
realizadas na Holanda evidenciam que a incidência desta doença gira em torno
de 1 a cada 70.000 nascidos vivos, sendo o tipo A o mais comum no noroeste
europeu, o tipo B, no sudeste da Europa, e os tipos C e D raros em todos os
lugares. Já no Brasil, aparentemente há um subdiagnóstico das MPS III em
relação às outras MPS, uma vez que na primeira o envolvimento é
predominantemente neurológico, enquanto que no restante, é predominantemente
físico.
Uma vez que todos
os quatro tipos de MPS III acumulam o mesmo GAG, o heparan sulfato, quase não
há diferença clínica entre eles. De forma semelhante a outras MPS, também há
a presença de alterações físicas, porém mais brandas. Esta síndrome ocasiona
características faciais levemente alteradas, retardo no desenvolvimento metal
que evolui para retardo mental severo, alterações de marcha e de fala,
enrijecimento articular e alterações comportamentais.
Outras
manifestações clínicas que podem ser observadas na síndrome de Sanfilippo
são: frequente infecção das vias aéreas, coriza crônica, dentes cariados,
apnéia do sono, macroglossia, mãos e pés frios, hepatoesplenomegalia,
linfadenomegalia, alterações do trânsito intestinal, convulsões, hidrocefalia
e hipoacusia.
O diagnóstico pode
ser feito através do quadro e histórico clínico apresentados pela criança,
sendo confirmado por meio de ensaios dos níveis de enzimas em amostras de
tecido e seqüenciamento genético. Também existe a possibilidade de realizar
diagnóstico pré-natal, quando já se tem um filho com a MPS III. Para tal é
necessário saber qual o tipo de MPS III do filho afetado, pois, para cada
tipo de MPS III, há um teste diagnóstico distinto, e todos os irmãos
portadores da MPS III apresentarão o mesmo tipo da doença.
O tratamento, em
grande parte, é suporte, uma vez que os distúrbios de comportamento causado
pela síndrome não respondem bem aos fármacos. Quando o diagnóstico é precoce,
o transplante de medula óssea pode apresentar resultados positivos. Apesar de
ser possível sintetizar a enzima deficiente em laboratório e administrá-la
por via endovenosa, esta não consegue transpor a barreira hemato-encefálica
e, deste modo, não há como tratar as manifestações neurológicas da síndrome.
Contudo, muitos estudos estão sendo desenvolvidos na busca de uma solução
eficaz para a síndrome de Sanfilippo.
Com 150 especialistas em doenças raras, Brasil pouco
avançou
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O Brasil registra cerca de 150 profissionais especializados em
doenças raras, segundo dados da Sociedade Brasileira de Genética Médica. Em
entrevista à Agência
Brasil, por ocasião do Dia Mundial das Doenças Raras, lembrado nesta
quarta-feira, o presidente do órgão, Marcial Francis Galera, alertou que nos
últimos anos o País registrou poucos avanços no campo da genética clínica. Ele
lembrou que 80% dos casos de doenças raras têm origem genética.
Segundo Galera, em 2009 o governo brasileiro lançou a Política Nacional
de Atenção Integral em Genética Clínica. "De lá para cá, a coisa andou
muito pouco". Para ele, seria necessária uma portaria normatizando o
assunto. Este ano, acrescentou, o tema foi retomado, com uma reunião no início
deste mês. "Mas, do ponto de vista concreto, nada saiu do lugar".
Para o especialista, há certa "acomodação" por parte do
governo, já que a maioria dos pacientes com algum tipo de doença rara só
consegue atendimento em hospitais universitários. A verba utilizada para
atender os casos é proveniente de investimentos em projetos de pesquisa.
Dados da associação mostram que os atendimentos a pacientes com doenças
raras se concentram nas regiões Sul e Sudeste, sobretudo no Rio Grande do Sul,
Rio de Janeiro e em São Paulo. Outro problema, de acordo com Galera, é que
poucos estudantes se interessam por uma especilização na área de genética
clínica, já que não há estímulo por parte do governo. O cálculo é que o País
precisa de pelo menos o dobro dos 150 especialistas com os quais conta
atualmente.
Não há dados oficiais sobre o número de brasileiros atingidos por algum
tipo de doença rara. A estimativa da associação é que entre 3% e 5% da
população nasçam com algum tipo de problema genético. Há ainda a chance de que algo
seja diagnosticado ao longo da vida adulta, o que eleva o índice para quase
10%, totalizando entre 15 e 20 milhões de pessoas que precisam do auxílio de um
geneticista.
"As autoridades devem se conscientizar da importância desse
problema. No conjunto, essas pessoas formam uma grande parcela da
população", ressaltou Galera.
O Ministério da Saúde informou que vem avançando na elaboração de
diretrizes para o diagnóstico, o atendimento e o tratamento das pessoas com
doenças raras. O Sistema Único de Saúde (SUS) conta atualmente com cerca de 26
protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas - 18 deles foram publicados nos
últimos dois anos e envolvem a oferta de medicamentos e de tratamentos
cirúrgico e clínico para reduzir sintomas e melhorar a qualidade de vida dos
pacientes.
"A assistência aos pacientes com doenças genéticas é um grande
desafio do SUS devido à complexidade do assunto - existem cerca de 5 mil
alterações genéticas que podem levar a essas doenças. Grande parte dessas
doenças não tem cura, tratamento estabelecido, nem estudos que comprovem a
eficácia de diagnóstico e tratamento", destacou a pasta, por meio de nota.
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